Gerir Talento – o novo desafio para as organizações

Maria João Oliveira

Diretora de Recursos Humanos, Abaco Consulting

Artigo de Opinião de Maria João Oliveira, Diretora de Recursos Humanos da Abaco Consulting, para a Líder: https://lidermagazine.sapo.pt/gerir-talento-o-novo-desafio-para-as-organizacoes/

Estamos, finalmente, a voltar ao “normal”, isto se o pudermos chamar assim. Estes últimos dois anos, talvez tenham sido dos anos mais difíceis, não tanto pela crise económica, mas pela crise social, pela mudança, pelo impacto que teve na vida da sociedade. A distância, o não contacto, os home office que, por mais benefícios que tenham trazido, acabaram por, inevitavelmente, criar algum afastamento dentro das organizações, uma vez que, infelizmente, pelo meio perdemos a questão da Humanity. Cabe às organizações e aos seus líderes “ressuscitarem” este conceito, na medida em que trabalhar em cooperação e de forma inclusiva, presencial e humana permite aos colaboradores sentirem-se mais seguros psicologicamente e apresentar melhores performances profissionais.

Se há tema mais debatido nos últimos anos, é o da escassez de talentos. Pois atrair, selecionar e recrutar para, a seguir, reter e obter o melhor dessa Pessoa, até parece uma equação bastante fácil, mas, no mundo dos Recursos Humanos, as regras têm vindo a mudar e agora ainda mais, impulsionadas pela falta de recursos.

Desta forma, nos dias de hoje, o foco deve estar no fator humano e a consciência de que são as pessoas que fazem a diferença, deve estar, cada vez mais, intrínseca na gestão de uma organização. A gestão de Recursos Humanos transformou-se na Gestão de Talentos, na criação de Comunidades, na Employee Experience e definitivamente deixou de estar centrada num “departamento”. Ela é feita de parcerias: com a Tecnologia, com o Marketing, com as Operações, com a área Financeira…Toda a liderança de uma empresa tem de fazer esta gestão de Recursos Humanos, apoiada por pessoas 100% focadas nestas matérias. Atualmente, a gestão estratégica de Recursos Humanos ou de talentos passou a outro patamar, é o sistema circulatório e linfático da organização. A eficiência, a produtividade, a gestão de competências técnicas, são fundamentais, mas fazem parte do patamar mais básico da Gestão e Liderança. Mas se queremos um corpo mais saudável, mais rápido, mais robusto, mais capaz de adaptar-se rapidamente às mudanças no seu ambiente, precisamos de uma cultura baseada na humanity e nas pessoas certas, que, para além de comprometidas, vejam na organização uma extensão de si mesmas e da sua vida como um todo.

No entanto, todos sabemos que gerir pessoas é das tarefas mais complexas que podem existir. Porque cada pessoa é única, tem experiências e expetativas diferentes e pode contribuir de formas diferentes. É preciso conhecer bem as nossas pessoas e passar mensagens baseadas em honestidade e transparência para as poder liderar. Um bom líder articula-as, abrindo-lhes o caminho para aquilo que elas fazem melhor e complementando os vários Talentos numa equipa, focando-os num propósito. Porque só assim conseguirá ter uma equipa forte, empenhada e completa. E, se a isso aliarmos um mindset geral de foco nos Talentos na organização, de processos desenhados para melhorar a experiência das pessoas e de envolvimento na organização, os Talentos serão efetivamente as peças centrais no processo de adaptação constante a que uma empresa é obrigada nos dias de hoje.

São as organizações com uma cultura forte, que mais confiam nos seus Talentos e lhes dão autonomia para (também) improvisarem, que se adaptam mais facilmente. Para isso é fundamental ligar e aproximar os colaboradores em torno de discussões relevantes e partilhar informações críticas sobre a organização. Ou seja, o objetivo é claro, voltamos a estar centrados na Humanity – partilha de valores, ajuda mútua, ser parte importante de algo, sentir-se bem, libertar o Talento. Fazer parte de uma Equipa – a que cada um pode escolher – diminui a rotatividade, aumenta a performance, e liberta energia positiva e o espírito de equipa.

O nosso papel como líderes é criar locais de trabalho que valorizem a diversidade da Humanity. Precisamos de criar ambientes onde as pessoas possam aparecer como são e contribuir na medida do seu talento. Também neste âmbito, o modelo híbrido de trabalho é, sem dúvida, uma das vias que mais satisfaz atualmente. E veio para ficar. Apostemos nestes novos modelos, sempre dinâmicos, suportados por lideranças capazes de os acompanhar, com a abertura, agilidade e flexibilidade necessárias ao que o presente e o futuro do trabalho nos reservam – o ser humano no centro da Organização, para que esta atinja a sua melhor performance!