Como liderar em tempos de pandemia

O novo coronavírus, também conhecido como COVID-19, é um caso de estudo baseado em incerteza. Ninguém sabe bem o que é, como apareceu, nem quanto tempo vai durar ou quão prejudicial será. Vivemos, cada dia, com base em suposições. Não sabemos quando iremos regressar à normalidade, nem mesmo o que será esse novo “normal”. Mas, em contrapartida, já todos percebemos – nada voltará a ser igual e teremos uma realidade bastante diferente do que estávamos habituados.

Esta pandemia é, tal como todas as outras crises, acelerada, exaustiva e provoca desorientação. As informações mudam diariamente e as decisões tomadas numa manhã estão desactualizadas na manhã seguinte. Neste sentido, todos os gestores empresariais enfrentam, neste momento, escolhas bastante difíceis na resposta ao vírus, uma vez que todas as opções parecem ter custos financeiros ou humanos inaceitáveis. E, exemplo disso, são algumas empresas que estão a fechar as suas portas temporariamente ou outras que se esforçam para alterar as suas práticas habituais, nomeadamente incorporar o trabalho remoto ou distanciamento social.

Numa altura em que todos os gestores têm demasiadas situações para controlar, a COVID-19 representa, para nós, uma fonte adicional de stress. Para além de termos de lidar com o impacto que poderá ter nos nossos negócios, temos, igualmente, a preocupação 24 horas por dia, 7 dias por semana, com os nossos funcionários, clientes, parceiros, com a nossa família e amigos.

Perante este contexto, totalmente atípico e exigente, todos os gestores deverão ter em conta que a mudança não pode ser evitada e é essencial que as empresas se reinventem e consigam ter uma rápida capacidade de resposta. Mas, para tal, embora esta situação possa parecer insustentável e insuperável, é fundamental que os líderes das empresas não tomem decisões reactivas, sendo para isso crucial definir planos de contingência, de forma serena e tranquila, e revê-los sistematicamente para, quando for necessário accioná-los, não sucumbirmos à pressão do momento e correr o risco de tomar decisões imponderadas que afectem o futuro da empresa e de todos os que nela trabalham. Nenhuma iniciativa pode ser bem-sucedida se não tiver, desde início, bem definidos os critérios de decisão e os objectivos que se propõe alcançar.

Liderar uma empresa e coordenar as suas respectivas equipas, numa altura de pandemia global, exige adaptações em relação às práticas habituais. Por exemplo: aumentar a comunicação com os colaboradores é uma prática que deverá, desde já, ser implementada e que um gestor deverá ter sempre em mente, uma vez que comunicações abertas, honestas, claras e oportunas permite-lhe reforçar a confiança e, ao mesmo tempo, demonstrar a sua capacidade de liderança. Os talentos, de qualquer organização, independentemente do seu tamanho, precisam de acreditar que a sua organização é capaz de lidar com a crise vivida. Mas, nunca nos podemos esquecer que falamos de pessoas e, por isso todas as nossas comunicações, quer internas quer externas, devem ter uma abordagem o mais humana e próxima possível.

Assim, qualquer gestor neste contexto deverá ter em consideração o seguinte:

1- Fortalecer a sua comunidade: Comunique de forma mais regular, mas com credibilidade e de forma positiva, com todas as equipas, para que sintam que estão a unir esforços para que todos saiam o menos prejudicados possível da situação em que vivemos. É essencial fazer com que os colaboradores se sintam seguros, envolvidos e informados, de forma a fortalecer o seu sentimento de pertença com a organização – por exemplo, envie um e-mail, todos os dias logo pela manhã, para todos os colaboradores, com dicas, novidades, actualizações, expectativas, notícias sobre a empresa ou, se a dimensão o permitir, telefone todos os dias a um colaborador;

2- Pedir feedback: Procure perceber quais são as reais necessidades dos seus colaboradores perante esta situação e de que forma os pode fazer sentir seguros no seu trabalho e em casa. Ao se manter a par de questões importantes como suporte técnico, saúde e segurança, bem-estar emocional, benefícios dos colaboradores e pressões externas (desafios financeiros, preocupações com os filhos, pais idosos…) terá um maior controlo sob as suas equipas e conseguirá preparar-se para eventuais situações que possam surgir;

3- Não resistir à mudança: Com base no feedback dos funcionários e da comunidade, pode fazer sentido alterar as regras estabelecidas para atender a questões de saúde ou simplesmente transmitir apoio às necessidades emocionais das pessoas. Partilhe a vontade de trabalhar com estas, de modo a ajudá-las durante este período atípico;

4- Acompanhar os seus clientes: Neste contexto, mais do que um acompanhamento comercial, é fundamental inteirar-se da situação dos seus clientes, do estado de saúde dos seus funcionários e dos impactos no negócio. Só assim poderá desenvolver iniciativas específicas para ajudá-los a ultrapassar este momento difícil e apoiar a suprir reais necessidades, assumindo assim um papel de verdadeiro parceiro;

5- Transformar esta pandemia numa oportunidade: Enquanto todos estão focados com o agora, é essencial que todos os gestores comecem a pensar no amanhã e em novas formas de continuar a atrair clientes e prospects.

Enquanto gestores de uma organização não nos podemos, nunca, esquecer que é fundamental a forma como lidamos com a gestão do novo Coronavírus, uma vez que será um momento decisivo, quer para o líder quer para a própria organização. Responder ao COVID-19 exige que lideremos tanto com o nosso lado mais humano, quanto com as nossas habilidades técnicas.